quarta-feira, 5 de junho de 2013

O que aprender com Israel


José Pio Martins*

Há algo que me intriga há algum tempo: o que leva um país com apenas 7,9 milhões de habitantes (o Paraná tem 10,4 milhões), um território minúsculo (menor que o estado de Sergipe), terras ruins, sem recursos naturais, com apenas 64 anos de existência, e em constantes conflitos militares... a ser um dos maiores centros de inovação do mundo; ter 63 empresas de tecnologia listadas na bolsa Nasdaq (mais que Europa, Japão, China e Índia somados), ter registrado 7.652 patentes no exterior entre 2002 e 2005, e ter ganho 31% dos prêmios Nobel de Medicina e 27% dos Nobel de Física?

Em resumo: o que explica o extraordinário desenvolvimento econômico e tecnológico de Israel?
Pela lista de carências e problemas citados no parágrafo anterior, Israel tinha tudo para ser apenas mais um país atrasado e miserável.
Mas, além de não ser, o país transformou-se em um caso único de inovação, tecnologia e desenvolvimento.
Muitas das maravilhas que usamos hoje vêm de lá.
O pen-drive, a memória flash de computador e muitos medicamentos que salvam vidas estão na lista de patentes de Israel.

Qualquer explicação rápida é leviana.
Muitos dirão que é o dinheiro dos norte-americanos e dos judeus espalhados pelo mundo que faz o sucesso de Israel.
Não é. Primeiro, porque nenhuma montanha de dinheiro transforma uma nação de atrasados e ignorantes em gênios da inovação e ganhadores de prêmios Nobel.
Segundo, grande parte do dinheiro recebido por Israel foi gasta em defesa e conflitos militares. Terceiro, o apadrinhamento militar de Israel nos primeiros anos de sua fundação não foi dado pelos Estados Unidos, mas pela França, cujo apoio cessou somente em 1967, após a Guerra dos Seis Dias. 

Nos artigos e livros que pesquisei, não há explicação simplista para o sucesso de Israel.
Pelo espaço limitado deste artigo, destaco apenas quatro pontos:
Em primeiro lugar, a história e a cultura. A religião judaica dá ênfase à leitura e à aprendizagem, mais que aos ritos. 
A perseguição aos judeus e a proibição, durante a Idade Média, de possuírem terras os levou a estudar e se tornarem médicos, banqueiros ou outras profissões que pudessem ser exercidas em qualquer lugar. 

Depois vem o apreço pela tecnologia e pela inovação. Israel gasta 4,5% de seu produto bruto em pesquisa e desenvolvimento, contra 2,61% dos Estados Unidos e 1,2% do Brasil.
Na ausência de recursos naturais e premido pela necessidade, Israel entrou de cabeça numa cultura de pesquisar, descobrir e inovar. 

Em terceiro lugar, a estrutura educacional.
A crença de que a única saída para o desenvolvimento - mais que os recursos naturais - é a educação de qualidade está na raiz da cultura de Israel.
Do ensino básico até a universidade, Israel desfruta de uma educação de nível e acessível a todos.
Se você pensa encontrar um judeu analfabeto, desista.
É uma questão cultural: para eles, povo e governo, a educação é o bem maior. 

E, por fim, o respeito pelo empreendedor e pelo fracasso.
Em Israel, valoriza-se muito aquele que se dispõe a inventar, inovar ou empreender.
Quem tenta e fracassa é respeitado e apoiado, pois eles acreditam que a falência é um aprendizado e a chance de acertar da próxima vez aumenta.
Isso leva a uma ausência de medo do fracasso e é um elemento-chave da cultura da inovação.
No Brasil, o desgraçado que falir uma microempresa nunca mais consegue uma certidão negativa e jamais volta a ser empreendedor.

Não se consegue transpor a cultura de um país para outro, mas há muito que aprender com Israel.

*José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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